Você começa bem a sua rotina no trabalho. Abre sua caixa de e-mails, se prepara para as próximas reuniões, verifica com seu pessoal como está o andamento dos trabalhos mais importantes, checa a agenda da semana, levanta para tomar um café… Dia normal como tantos na sua organização. Seus resultados estão dentro do esperado, seu departamento foi bem na última avaliação de clima. Lá pelas onze, seu chefe lhe chama para seu escritório. Estranho, não havia reunião mercada.
Já no escritório dele, você reconhece algumas pessoas de fora, que já tinha visto em outros corredores. Seu chefe amavelmente lhe apresenta a equipe daquela famosa consultoria que vai desenvolver um projeto em algumas áreas da empresa, entre elas, a sua.
A partir daí um conjunto de dúvidas paira em sua mente e enquanto ouve o rápido briefing do projeto, vai pensando por que sua área foi envolvida. Como já sabemos, seus números estão dentro das metas, seus resultados são bons e seu clima, muito razoável. Essa dúvida continua até que você ouve da Consultora a proposta de agenda: – Pode ser amanhã por volta das dez na sua sala? Sorridente você concorda e sai da reunião com a estranha sensação de que há algo errado…
Equipes multidisciplinares de projeto, com gente de fora, costumam questionar processos e rotinas, avaliar pessoas do time e quase sempre nos tiram da nossa zona de conforto, que é para onde sempre temos a tendência de ir (até mesmo quando queremos tomar um café). Instintivamente, temos a tendência de nos cercar de indicadores adequados como bons resultados, bônus acima da média, satisfação dos clientes, bom ambiente da equipe, para então criar uma nova área de conforto, ainda que transitória. Essa área é necessária para que você atinja os objetivos ajustados com seu chefe e com a empresa, e colocar uma equipe externa dentro desse espaço confortável pode ser um tanto estranho.
A partir daí temos algumas possibilidades de atitude dentro do esperado e do praticado nas organizações. Começando por estabelecer atitudes defensivas, passando por justificativas bem fundamentadas para processos correntes e um pouco de restrição ao acesso a dados confidenciais, a tendência natural dos executivos é procurar garantir seu espaço de autoridade e de influência no reequilíbrio de forças que essa situação impõe.
Poucos executivos se mostram mais colaborativos enquanto entendem de modo mais amplo as razões do novo projeto e as possibilidades que explicita ou implicitamente surgem com essa chegada. Ao mesmo tempo em que gente nova causa uma entropia natural no grupo, abre-se a possibilidade de novas descobertas, novas maneiras de fazer e novos objetivos, eventualmente mais apaixonantes.
A partir daí é preciso que você seja muito franco e estabeleça como você mesmo e sua área esteja depois que a equipe externa concluir o seu trabalho. Isso mesmo. Esse dividendo pode e deve ser adequadamente planejado para que seu time possa ter novas e melhores perspectivas, desde novos conhecimentos adquiridos até novas possibilidades de carreira dentro ou fora da sua área. Tais possibilidades surgirão de uma forma ou de outra, e se sua equipe estiver atenta, poderá colher bons frutos, ampliando seus horizontes e ganhando nova motivação. Para tanto é necessário aprimorar as nossas habilidades de comunicação.
O crescimento profissional do time, o ganho de conhecimento e de atitude se dá em ambientes colaborativos em que de modo franco e equilibrado, todos tenham a possibilidade de se expor sem riscos de julgamentos prévios e que a informação possa fluir de forma transparente e honesta entre todos. Passar por cima de paradigmas, modelos pré-concebidos e mitos da organização é importante para criar um ambiente de franqueza e confiança.
Esse ambiente é a base para construção de novos “saberes” e de novas atitudes, mais alinhadas do que se busca para uma empresa cada vez mais imersa no ambiente moderno de “coopetição”.
E aí, já decidiu quais os dividendos que você terá de seu próximo projeto?
Mestre em Ciências da Comunicação, graduado em Publicidade e Propaganda, é Executivo de Marketing, Comunicação e Relações Institucionais com 30 anos de experiência acumulada em diversas empresas. Desenvolve estudos nas áreas de Marketing Estratégico; Marcas e Comunicação Corporativa; Relações Governamentais e Institucionais;. É palestrante e professor em vários Programas de MBA em Marketing, Branding e Comunicação. É coautor do Livro: Um Profissional para 2020 – Editora B4.
2 comentários sobre “Consultores externos, Problemas à vista?”
Hi Victor…tudo bom?
– Realmente a “entrada” de surpresa de consultores estranhos dentro da organização sempre é vista como uma ameaça e até um risco para o gestor da área “alvo” da Consultoria.
– Eu tive algumas experiências insólitas como Consultora do ERP SAP em alguns projetos que participei! …tive que driblar a desconfiança, a sonegação e até a hostilidade do “dono” da informação de que eu precisava para “me livrar” desse projeto porque a resistência das pessoas ao SAP é violenta!
– Chega-se um momento que queremos CORRER de tudo porque acabamos assumindo responsabilidades extra-projeto! …pior ainda sabendo que vc. é rotulado como o “salvador da pátria” pelo contratante sem ter sido contratado para isso!
– O mais “bizarro” projeto de SAP foi o da CENIBRA em MG, onde a empresa me contratou para uma revisão no projeto do SAP, que estava sendo implantado por outra consultoria estranha a mim! …quando as 2 consultoras dessa parceira em SAP me questionaram das razões de estar ali “mexendo” no SAP “delas”, acabaram se protrando de maneira extremamente hostil e me acusaram de ESPIONAGEM INDUSTRIAL NO SAP DELAS!?! …ora…eu fui até lá AJUDAR A RESOLVER OS PROBLEMAS QUE ELAS CRIARAM NO SAP DA CENIBRA e não ESPIONAR A CENIBRA ou a “saída” SAP que elas “venderam” para o cliente CENIBRA! …e no final tomei um prejuízo de R$15 mil reais porque a gestora de TI da CENIBRA me dispensou sem satisfações e ainda prejudicando o usuário final do ERP que ficou sem explicações!
– Ser consultor “externo” neste país tem seus riscos…e é sempre vc. quem vai arcar com o ônus do projeto…por mais ético e honesto que vc. seja!!! aqu iestá a razão de muitos expert em TI abandonarem a carreira e optarem por outro trabalho mais seguro!!!
gr.
Hannah W. Becker
C.I.O. & TI/ERP Consulter
SAP / ORACLE / IBM Solutions.
Cara Hannah, muito bom seu comentário.
Nos resta perseverar na missão de dar às empresas maior competitividade e mais eficácia, além de “catequizar” muito interlocutores que farão melhor da próxima vez!
Grande Abraço!
Victor