Pessoa jurídica é analfabeta: não sente saudade, não vai ao banheiro

Poema Pessoa JurídicaOK: você já deve ter ouvido isso muitas vezes, comunicação empresarial (e não estou falando de anúncios nas eternas edições especiais caça níqueis que vira e mexe vêm à luz) tem que ser racional, falar de forma seca e direta sobre as especificidades do produto, as muitas certificações que já teve, dimensões, desempenho e tudo quanto é característica. Ou no pioneirismo dos fundadores, com fé e muita visão de futuro.

Pode ser, também que se opte por uma imponente fotografia da fábrica, como se a fábrica estivesse à venda e para saber quanto custa bastaria um contato com a imobiliária mais próxima.

Em outras palavras: comunicação 100% racional, como se do lado de lá, quem recebe a comunicação é um robô e não alguém de carne e osso, que sente saudade e vai ao banheiro, uma pessoa sensível e justamente porque fala, anda, sente, prefere ser tratada como um ser humano.

Insisto: não estou falando de anúncio, embora o que tenha sido dito até agora aplique-se, sem tirar nem pôr, à maioria dos anúncios “técnicos”, “institucionais” ou que nome se dê.

Prestei serviços por muitos anos a uma das mais bem-sucedidas empresas de call center do país. Não há anúncio, sozinho, capaz de convencer um empresário a optar por este ou aquele fornecedor de serviços dessa natureza. Trata-se de um típico problema de garimpar oportunidades no relacionamento dia a dia com clientes e prospects.

Relacionamento de pessoas com pessoas.

Lembrança constante do nome.

Oportunidade contínua para a empresa ser lembrada e chamada preferencialmente cada vez que haja necessidade de emitir um RFP, ou na língua que se fala no Brasil, pedido de proposta.

Uma das coisas que eram feitas (sem exagero, que ai fica demais) era reunir pequenos grupos de executivos para uma degustação de café dirigida por uma simpática barista. Ou uma “aula” sobre sushi. Hora em que prospects e também clientes conversavam descontraidamente, acabavam falando de seus serviços de atendimento, revelavam oportunidades difíceis de serem postas prá fora numa mesa normal de reuniões. 

Na Copa do Mundo (não na última, que foi um desastre!) um grupo seleto de clientes e prospects recebeu um convite para participar de um bolão muito criativo (não apenas resultados) e junto com o convite seguia uma bola de futebol.

Ações desse tipo funcionavam? Sem dúvida!

Eram ações de comunicação empresarial? Claro!

Gerava vendas, que é o que interessa? Sim.

Uma outra empresa, (porque não dizer o complicado nome, Hoechst) nunca teve embaraço para dizer que seu nome era, sim, difícil de ser pronunciado. Em malas diretas, anúncios, folhetos, não apareciam fábricas ou fotografias de azedos cientistas alemães num laboratório e sim uma simpática telefonista bem brasileira de entortava a língua para falar Hoechst e dizia que foi fácil aprender: não tinha levado nem uma mês…

Há exemplos e mais exemplos.

Aqui e em todas as partes.

Mas fique certo quem lê, que alguém vai repetir, daqui a pouco, que comunicação empresarial é coisa séria e não admite liberdades: tem que ser 100% racional.

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