Começando pelo samba.
Maria lava roupa lá no alto
Lutando pelo pão de cada dia
Sonhando com a vida do asfalto
Que acaba onde o morro principia
Era Marlene quem cantava. Maria provavelmente já tem asfalto na porta e seus sonhos, hoje, são outros.
O morro, em muitos sambas, era pura poesia. Vejam a letra do Herivelto Martins, gravada por Nelson Gonçalves:
…Lá não existe
Felicidade de arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu.
Tem alvorada,
Tem passarada, amanhecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer.
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
Ave Maria.
Não sei se a passarada continua soltando seus gorjeios, mas com certeza a razão das eventuais rezas não é exatamente a mesma.
É bom lembrar que não foi a violência (ou só a violência) que levou Maria a deixar de ser lavadeira.
A tecnologia teve muito a ver com isso. Nestes novos tempos, as antigas freguesas da Maria agora têm máquinas de lavar e há lavanderias “a quilo” em todas as esquinas.
Aconteceu com ela, Maria, acontece o equivalente em todas as empresas. Não se trata, apenas, de automatizar muitas e muitas funções. Ou fazer com que robôs assumam serviços que eram braçais.
Há empresas que simplesmente perderam sua razão de ser e não tiveram cabeça, no momento certo, para perceber a chamada marcha do progresso e simplesmente desapareceram. A Kodak é o mais clássico exemplo. (Se o termo não tivesse se transformado num modismo chato e desgastado, eu diria que é um exemplo icônico…).
Houve, na outra ponta, empresas que foram se ajustando à nova realidade e estão aí esbanjando saúde: a G.E. e a IBM, por exemplo.
As empresas, eu diria todas as empresas, precisam estar atentas à necessidade de se repensar o tempo todo, pois o mercado continuará mudando. Sem parar.
Infelizmente não é isso que se vê. Muitas empresas continuam firmes no “foi sempre assim e assim sempre será”.
“Nada será como antes” é o título de uma matéria publicada numa das edições comemorativas do 50o. aniversário da revista Exame. Logo depois de afirmar que nada será como antes, diz o texto:
“Uma certeza que parece razoável no ritmo frenético de mudanças que vivemos é a de que as transformações serão seguidas de outras, e mais outras, e mais outras”
Revista Exame – edição 1151 – 6.12.17
Jornalista e Publicitário, sócio da Percepta, teve a felicidade de trabalhar em agências que tinham em comum a crença de que a frase “ A Propaganda é a Alma do Negócio” estava longe de ser uma verdade definitiva. Foi sócio da Lage, Stabel & Guerreiro BBDO. Foi ainda Vice-Presidente da Norton Publicidade, Sócio Fundador da Grey Direct no Brasil, Sócio Diretor da B-to-B Marketing Communication.